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16 de Abril de 2024

Estudante é expulso de fórum por se recusar a tirar adereço do candomblé

Publicado por Wagner Francesco ⚖
há 9 anos

Estudante expulso de frum por se recusar a tirar adereo do candombl

Para o estudante universitário Herácliton dos Santos Barbosa, 20 anos, o eketê, gorro litúrgico utilizado por homens que seguem algumas religiões de matriz africana no Brasil, é um elemento de proteção. “Protege o camutuê, orì, cabeça, enquanto espaço de morada dos nossos ancestrais divinos de forças sobrenaturais”, explica o rapaz, adepto do candomblé desde os primeiros anos de vida.

Mas no último dia 17 (terça-feira), o adereço que para Barbosa tem um significado religioso se tornou um problema. Ele foi impedido de entrar no Fórum Odilon Santos, comarca de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo, porque usava o gorro.

Faltava pouco para as 9h quando Táta Luangomina, nome que Barbosa recebe no candomblé, chegou ao local. A ida até lá era para abrir firma e autenticar declarações para o contrato de locação de um imóvel. Os documentos serviriam para prestar contas dos auxílios que recebe mensalmente da Universidade da Integração da Lusofonia Afro Brasileira (Unilab), onde estuda o quarto semestre do bacharelado em Humanidades. Foi impedido ainda na entrada.

“Ao chegar ao fórum, fui notificado pelo porteiro de que eu tinha que retirar o meu gorro, que é um adereço litúrgico. Vi que existia um aviso em uma placa vermelha, informando que era proibida a entrada no local usando blusa, camiseta, saia, short e boné”, anotou o rapaz, que continua o relato: “Informei para ele que iria tirar o meu eketê para mostrá-lo que não tinha nenhuma arma, droga ou câmera escondida, mas que o gorro fazia parte da indumentária da minha religião e que por isso eu não permaneceria sem ele”. Após isso, Barbosa conta ter sido retirado do Fórum à força, por se recusar a permanecer sem o gorro.

Não adiantou dizer que o adereço era parte da indumentária da sua religião. Um policial, orientado pela juíza Elque Figueiredo, teria expulsado o rapaz. “Nesse instante, pedi para falar com a juíza que havia emitido a ordem para saber dela o porquê de eu não poder ficar no Fórum usando meu eketê, e para explicar a ela o significado do uso do gorro na minha religião”, relata. Foi quando, segundo Herácliton, ele puxou o gorro da cabeça, “ sem meu consentimento, me pegou pelos braços e pelo pescoço, e saiu me arrastando”, relembra.

Procurada para comentar a denúncia, a juíza Elque Figueiredo, diretora do Fórum Odilon Santos, não foi localizada. Em nota, a assessoria do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) informou que “o vestuário é um dos elementos integrantes a conferir solenidade no atuar na esfera do Poder Judiciário” e que “todos os atores da cena judiciária devem adotar a postura de estarem convenientemente trajados e terem compostura e atitude compatível com o ambiente”.

Após a expulsão, Barbosa registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Santo Amaro, onde alega ter sido constrangido pelo médico legista. “Ao receber esse protocolo (do B. O.), solicitei que fosse realizado o exame de corpo de delito. Durante o exame, o médico me perguntou se eu tinha alguma marca no corpo ou algum ferimento. Respondi que não e questionei se o exame seria feito apenas a olho nu”, relembrou.

A seguir, conta que o legista o interrompeu “falando grosso, dizendo que o procedimento com ele é assim”. Nesta terça (31) pela manhã, Bastos foi até a Corregedoria do Tribunal de Justiça protocolar uma denúncia. No local, segundo ele, foi orientado a encaminhar e-mail relatando o caso para que as providências cabíveis fossem tomadas.

Antes, o rapaz já tinha buscado ajuda no Centro de Referência Nelson Mandela, da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial, onde foi instruído a recorrer à Corregedoria do TJ-BA. Além do tribunal, por meio de carta de denúncia, o Ministério Público Federal também foi comunicado do caso. Por telefone, a assessoria do MPF informou que o caso deverá ser analisado por um promotor na próxima semana.

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96 Comentários

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Parece piada de 1º de Abril,
mas é "apenas" a intolerância religiosa no Brasil.

E o crucifico nas paredes não tira por quê? continuar lendo

Porque não põe em risco a segurança de um local como um adereço que pode ser usado para cobrir o rosto. Simples assim. continuar lendo

Caro Edson Lustosa, já fui policial civil e posso dizer-lhe que o rapaz até poderia puxar o adereço para cobrir o rosto mas não acredito que o mesmo seria capaz de cometer qualquer tipo de violência ou ato delituoso e por um motivo muito simples: ele não conseguiria enxergar nada. O "gorro" a que você refere-se e que costuma ser usado por assaltantes na verdade chama-se balaclava e tem uma abertura para os olhos. Alguns criminosos costumam usar uma mascara feita do mesmo tecido da meia calça feminina, ou seja, um tecido translucido que permite a visão. continuar lendo

Ah, Wagner, tem dó. Qual é o mal do crucifixo? Você não é cristão? O crucifixo é da religião cristã. Até o reclamante teria direito de usá-lo, creio. Tá certo que, na paranoia de segurança de hoje, a cruz de metal ou madeira pode se tornar uma arma. Acho, apenas, que a intolerancia foi do rapaz que queria mudar à força o regulamento. Em Roma, aja como romano, por favor... continuar lendo

Entendam, amigos: eu não faço julgamento do rapaz, nem especulação do que ele seria ou não capaz de fazer. A norma é para todos, é preventiva. Não cabe qualquer espécie de julgamento, até para não incorrer em preconceito. O adereço pode ser usado com fim impróprio. Daí se justifica o impedimento de seu uso. Chamar isso de discriminação religiosa é um exagero.
Não tenho mãos o laudo pericial apontando se o gorro possui ou não orifícios na região dos olhos e nem o nível de transparência do tecido em que ele é confeccionado. continuar lendo

Quanto a última parte do seu comentário:
Simples assim.
Resposta: Vivemos em uma hipocrisia. continuar lendo

Bom, se o boné, a grosso modo, pode ser uma arma nunca vi ninguém morto a bonezada. MEU DEUS. Quanto comentário doido. continuar lendo

Caro Wagner Francesco,

me parece que o problema não é de intolerância religiosa, o rapaz ao que tudo indica, usava no momento outros adereços religiosos, como os colares e a pulseira, e não lhe foi solicitado a retiradas destes.

O problema é de regra social, e seu rigor, notadamente no tocante ao vestuário em certos lugares, como por exemplo: se em uma festa social é obrigatório o uso de fraque, alguém com um simples paletó seria impedido de entrar.

Contudo, acredito que o jovem poderia tirar o eketê por alguns instantes, pois penso que ele o tira no cabeleireiro ou na barbearia quando vai cortar o cabelo, igualmente, imagino que ele também retira o apetrecho quando vai tomar banho, então, por que não retirar o gorro para entrar no fórum? Só mesmo para expressar sua revolta ou mesmo insatisfação com judiciário, literalmente "dizendo" pra vocês eu não tiro o chapéu... continuar lendo

Infelizmente, caro Ivanilson Maranhão, o problema é bem mais serio. Já soube de trabalhadores rurais pauperrimos serem proibidos de participarem de audiências judiciais por não terem sapatos. Para mim magistrados que assim agem, desrespeitam a garantia constitucional que determina o acesso a justiça a todos nesse país. continuar lendo

Pois é, será que se fosse um religioso judeu que usa o Quipá, teria também que tirá-lo? Ou um muçulmano que usa o Taqiyah, ou ainda um bispo que usa a Mitra o tratamento seria o mesmo?

É bem a cara de alguns magistrados, abusar do Poder!

Absurdo!!! continuar lendo

Sem paixões ideológicas, nem divagações antropológicas. Se um bispo usar mitra fora do ofício religioso, não é bispo, mas palhaço. O quipá de um judeu não tem dimensão suficiente para cobrir o rosto. Já o gorro mostrado na foto pode muito bem ser puxado para cobrir o rosto e, assim, pôr em risco a segurança de algum local. Na prática é isso. Mas ninguém está proibido de viajar na maionese. continuar lendo

Por em perigo quem cara palida. Uma coisa é um cara se recusar a tirar um simples boné qualquer, uma touca qualquer. Outra coisa é um adereço religioso que não representava perigo a ninguém, visto que o mesmo tirou o adereço na entrada demonstrando que não carregava nada.
Uma vez que provou que entrou desarmado, vai causar o mesmo "perigo" que alguém que entre sem touca alguma. continuar lendo

Realmente.... ninguém ta proibido de viajar na maionese, então está permitido, como depreende-se do comentário acima.

A vida não é preto e branco apenas.

Concordo com o Rodrigo Meireles, o policial poderia ter feito a revista e visto que o gorro não se prestava a isso, poderia ter comunicado o seu superior ou o responsável do fórum. A própria indumentária já demonstra a religião da pessoa.

Bastava ter um "RELAÇÕES PÚBLICAS" ou alguém que poderia ser consultado no fórum para essas questões.

O Policial é o que tem menos culpa, pois infelizmente está dentro do esquema descrito por Hannah Arendt da "banalidade do mal"... ele só "cumpre ordens", não importa a fundamentação. Nunca passará do "CARA-CRACHÁ".

Mais um caso de má gestão, no mínimo, para não adentrar na seara da intolerância mesmo, pois não temos detalhes suficientes para tal.

Abraços. continuar lendo

"Relações Públicas"? Por que as aspas? Por um acaso essa profissão regulamentada é menos nobre que outras?
Quem se diferencia deve ser tratado diferentemente na medida em que se diferencia. Pelo menos é o que dizia o velho Ruy. Procurou, achou.
O texto é tendencioso desde o título, por vincular a religião ao adereço. A proibição é do adereço em si. continuar lendo

I N A C R E D I T Á V E L...

Até quando seremos obrigados a conviver com esse tipo de relato? é isso que chamamos de estado democrático de direito ? A referida juizá desconhece o princípio conciliador da proporcionalidade? será que a douta magistrada desconhece o significado do termo "laico" insculpido na Constituição Federal?
Se o Estado, apesar de conceder aos cidadãos, o direito de terem uma religião, os puser em condições que os impeçam de a praticar, haverá realmente liberdade religiosa ? continuar lendo

Bom dia. Conduta absurda da Juíza! Daqui a pouco vão exigir que a população use vestimentas sociais no fórum. continuar lendo